É possível a clonagem humana?

23/09/2024

Mundo

Fonte: Imagem: GettyImages

No início dos anos 2000, um frenesi de clonagem se instaurou na sociedade, graças a uma pequena ovelha nascida em 1996. Medo, expectativa, especulações e novelas foram criadas sobre o tema que povoou o imaginário da população mundial.


Mas a clonagem, apesar de uma promessa do passado, pode não ser tão útil e eficaz para nós hoje. Além disso, a reprodução de cópias humanas não está ligada apenas a replicação genética, mas também a fatores ambientais e culturais que interferem diretamente em quem esse novo velho ser humano se tornará.


Confira quem foi o primeiro exemplar clonado no mundo e o motivo pelo qual clonar humanos pode não ser uma boa ideia.


Bellinda e Dolly


O medo da clonagem e das implicações dessa prática para a existência humana começou com uma célula mamária e uma ideia. Na década de 1990, diversos laboratórios estudavam a teoria sobre como desenvolver espécies geneticamente melhores. O sucesso dessa empreitada nasceu em 05 de julho de 1996.


Keith Campbell e Ian Wilmut, pesquisadores do Instituto Roslin da Faculdade de Edimburgo, Escócia, obtiveram o que à época, era o maior avanço tecnológico na área de edição e reprodução genética, clonando uma ovelha: Bellinda.


Bellinda era uma ovelha da raça Finn-Dorset de 6 anos, cujo DNA foi extraído a partir de amostras de células mamárias. Contudo, a ovelha doadora do óvulo era da raça Blackface Escocesa.


Caso a prole nascesse com traços da ovelha doadora do óvulo, seria visível que substituição nuclear entre as células não tinha papel preponderante no desenvolvimento do embrião, por isso a escolha pela utilização de raças diferentes.


Esse tipo de processo não envolve a fecundação por espermatozoides, pois se isso ocorresse, acrescentaria à receita um novo DNA. Sendo assim, o processo é considerado assexual, e o estímulo para que o óvulo de dívida e forme o embrião é realizado por meio de estímulos elétricos e bioquímicos.


Após a formação do embrião, ele foi implantando no útero de outra ovelha, onde o processo gestacional ocorreu no tempo usual. Quando Dolly nasceu, ela era exatamente o que se esperava, uma cópia geneticamente idêntica de Bellinda.


Assim, nasceu o primeiro mamífero clonado do mundo! Dolly viveu até os seus 6 anos, quando foi abatida após adoecer gravemente, em 2003. Depois dela, outros mamíferos como cães, gatos, cavalos e gado já foram clonados.


É possível clonar humanos?


A resposta para essa pergunta extrapola os limites do campo ético e científico. Quando nos referimos puramente a reprodução de material genético, a resposta é clara: seres humanos podem ser clonados. No entanto, quando adentramos em um campo ético, cultural e ambiental de formação do ser, a resposta é provavelmente: não.


Mesmo que os clones possuíssem o mesmo DNA do doador, ele tranquilamente poderá ser outra pessoa. Temos como exemplo diário para essa afirmação irmãos gêmeos, que são clones naturais.


Mesmo gêmeos monozigóticos, ou seja, aqueles originados do mesmo óvulo e espermatozoide, quando experimentam e vivenciam o mundo, criam em si personalidades diferentes, mesmo compartilhando o mesmo código genético. Ademais, ainda que todas as sequências de DNA possam ser idênticas, existem fatores epigenéticos que podem gerar mutações ao longo da vida.


Outro fator é o temporal, ou seja, mesmo que eu tentasse clonar meu avô, nascido em 1922, caso ele nascesse hoje, em 2024, a cultura, tecnologia, costumes e tradições desse clone, corresponderiam a temporalidade atual, e não de alguém que nasceu poucos anos após a primeira grande guerra mundial.


O eu não é algo hereditário, sendo assim, se a intenção fosse recriar uma pessoa por sua personalidade e conhecimento expressos no passado, provavelmente seria um desperdício de recursos promover a clonagem desse ser humano, atualmente.


Anteriormente, no início do movimento em prol da clonagem, muito se discutiu sobre as possibilidades da reprodução de clones para fins para estudo científico e doação de órgãos para seus originadores.


Além de ser uma barreira ética, com repercussões bastante sérias, atualmente existem estudos de bastante sucesso relacionados ao desenvolvimento de células-tronco a partir de processos de regressão de células maduras.


As iPSC (células-tronco de pluripotência induzida, em tradução livre) podem ser obtidas a partir de qualquer tecido celular maduro, fazendo com que qualquer argumento a favor da clonagem perdesse seu sentido, pois esse tipo de tecnologia celular otimiza o processo, barateia e custo e não envolve questões éticas espinhosas como utilização de embriões.


Ainda com medo de ser clonado?


Fique tranquilo, muito provavelmente você não será clonado, ao menos, não biologicamente. Estudos de inteligência artificial têm tentado captar e transferir algo que nosso DNA sozinho não dá conta: personalidade.


Mas sem nos adentrarmos no campo filosófico do que somos, como nossas sinapses ocorrem e o senso de identidade surge no indivíduo, sabemos que dificilmente o que somos hoje poderá ser replicado. Vários aspectos de nós podemos ser reproduzidos, mas isso não implica que existirão várias cópias do nosso eu circulando por aí.


Entretanto, isso não impede que a curiosidade e o medo da mortalidade continuem trabalhando na tentativa disso acontecer, por exemplo, o 'ghostbot'. E assim caminha a humanidade curiosa e inventiva.


Nos conte em nossas redes sociais o que você pensa sobre a clonagem e se para você esse é um conceito ultrapassado ou ainda pertinente. Até mais!



Fonte(s): tecmundo